Uma utopia chamada socialismo

Uma utopia chamada socialismo

Nos meus dois últimos textos argumentei o porquê de o socialismo ser uma utopia. Hoje encerro a trilogia. Se você não leu os outros textos clique aqui e aqui para lê-los.

Começo pedindo desculpas pela falta de coesão desse texto. Não consegui articulá-lo harmoniosamente, porém a coerência e ligação com os textos anteriores se mantém.

A política econômica brasileira é capitalista. Mas apenas na teoria, pois na prática eu a chamaria de mercantilista.

Lembro que o socialismo é um sistema de organização econômica e social que se baseia na propriedade estatal dos meios de produção. Já o estado vamos o entender no sentido weberiano, ou seja, como o agente que detém o monopólio legítimo da força.

Anarcocapitalistas defendem um sistema de organizações competitivas com afiliação voluntária administrando os serviços que hoje estão nas mãos do estado weberiano. O estado não precisa necessariamente deixar de existir, apenas permitir a concorrência.

Socialismo é anti-ação e coerção institucional. É todo sistema de agressão por parte de uma administração central que impede a livre ação do indivíduo julgando ser ela capaz pela coordenação social. Porém, obviamente, é impossível esse engendramento, afinal a informação e o conhecimento são dinâmicos e de natureza tácita.

A sociedade é uma ordem de interação espontânea entre bilhões de pessoas. É humanamente impossível haver um agente coordenador. Imagine que você deseja trocar um iogurte que levou para a colação da manhâ com a pêra de seu colega de trabalho e alguém queira arbitrar esta troca voluntária aferindo um valor X ao seu iogurte e outro valor Y à pêra. Impossível. Os valores são subjetivos e válidos para o momento presente. É ridículo querer valorar iogurte, pêra ou qualquer outro produto por suas características físicas. O valor é marginal.

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A economia e a administração não são ciências apriorísticas como a matemática e a lógica. Suas conclusões não são incondicionais, mas sim históricas. A história pode registrar, por exemplo, que uma diminuição de 40% no preço da manga nos supermercados da cidade de São Paulo em 2004 aumentou sua demanda em 37%. Este seria apenas um dado histórico de 10 anos atrás. Nada garante que uma nova redução na ordem de 40% proporcione uma demanda 37% maior pela fruta. A estatística não é apriorística e sim histórica. O consumidor de 2004 tinha conhecimento, informação, necessidades e preferências diferentes do consumidor de 2014.

Ainda é importante lembrar que aquele que escreve a história não é imparcial e sua compreensão e análise está influenciada por traços de sua personalidade e da cultura local.

Na observação global de qualquer ação ou fenômeno cada observador concentra-se no fato que julga ser mais relevante. O relato de duas pessoas referente ao mesmo episódio pode ser semelhante ou completamente distinto. É impossível uma visão e análise macro, cada observador irá ater-se no que julga mais relevante.

Como lidar com o suposto paradoxo do valor? Como explicar que apesar de o aço ter maior utilidade que o ouro, esse ter mais valor? É impossível explicar a formação de preços partindo de uma valoração não marginal. Não existe uma teoria de valor objetiva (Marx tentou apresentar a bobagem que chamou de valor/trabalho), pois o valor é subjetivo.

É por isso que me dói os ouvidos ouvir pessoas falando em preço justo. O preço justo é exatamente aquele praticado. Quando ele deixar de ser justo não haverá demanda e seu fornecedor se verá obrigado a diminuí-lo. Se existe demanda o preço é justo.

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Ouvi outro dia de um colega afirmar que ser humano nenhum vale isso. Ele se referia ao valor pago pelo Barcelona aos direitos federativos pelo futebol do jogador Neymar. Minha resposta foi simples e objetiva: é claro que vale. Se não valesse não teria quem pagasse.

O valor não é algo intrínseco à natureza do produto, ele existe apenas dentro do ser que o avalia.

É preciso associar a demanda não somente ao preço mais também às preferências. Como as preferências são individuais, não articuladas e validas somente para o tempo presente, é impossível um órgão central determinar o preço justo. O preço justo é exatamente aquele que comprador e vendedor acordaram sem haver coerção.

Quando o estado resolve definir o preço justo de alguma coisa ele age irracionalmente. É por isso que Von Mises afirmou ser impossível o cálculo econômico no socialismo, pois só se é possível realizar cálculo econômico em um livre mercado, portanto onde as pessoas são livres para comercializar suas riquezas com base em seus valores subjetivos e temporais. O preço justo é aquele onde os indivíduos negociam sem coerção.

Em uma sociedade com um planejador central definindo preços é impossível haver cálculo econômico. Assim como Von Mises Max Weber também chegou a esta mesma conclusão na segunda década do século passado.

O socialismo é uma agressão à criatividade do homem, e trava o desenvolvimento econômico, tecnológico e social.

O que de fato acontece é que os homens que controlam o governo exercem suas ações visando seus fins, estes com base em seus valores. E para se manterem no poder fazem uso da agressão e a racionalizam como sendo ela inevitável.

O ser humano age por considerar o fim desejado superior aos custos incorridos no meio. Sua preferência temporal alinhada ao custo de oportunidade considera valer a pena incorrer neste sacrifício hoje pelo possível lucro a aferir no futuro. O custo é o valor subjetivo que o agente atribui àquilo que renuncia no presente para ter o que ele julga ser superior no futuro.

Sua ação é altamente subjetiva e muitas vezes parte de um conhecimento racional tácito.

A ideia do brasileiro é de que no estado impera o valor moral, quando na verdade de moralmente correto existe pouco, quase nada, presente no estado. O estado usurpa as liberdades individuais e tira a responsabilidade do indivíduo. A esquerda acredita ter o monopólio da virtude se achando moralmente superior. Porém a moral é endógena cabendo a cada um definir o que é uma ação moral. O principio básico a ser respeitado é o da não agressão e do cumprimento dos contratos firmados. O estado detém o monopólio da força, mas em momento algum assinamos uma procuração dando a ele poderes para legislar. Somos escravos. A visão weberiana de estado é um paradigma a ser mudado. Ente nenhum deve possuir o monopólio legítimo da agressão.

Che Guevara foi um individuo sem qualquer escrúpulo moral e foi chamado de revolucionário. O correto mesmo é chamá-lo de assassino. Assassinou dezenas de centenas de pessoas com base em seu valor moral.

Entende-se de forma errada que o oposto do bem é o mal. Assim ou se faz o bem ou o mal. Mas é completamente possível não se fazer o bem sem causar o mal. Posso viver minha vida sem causar o mal a ninguém e também sem desejar fazer o bem. É um direito que tenho. Não sou obrigado a ajudar o próximo. Agora quando sou extorquido compulsoriamente pelo estado alegando ele estar fazendo o bem-social eu pergunto: que bem há nessa ação onde sou agredido e roubado com a suposta alegação que é para se fazer o bem? Estranho esse raciocínio.

Abstenho-me de bebidas fortes que podem me levar ao vício, mas sou obrigado a contribuir com o tratamento do dependente que livremente escolheu beber conhecendo os riscos. Da mesma forma evito o excesso de sódio nos alimentos e caminho diariamente para manter minha pressão arterial satisfatória, mas devo arcar com o custo do remédio daquele que escolheu não ter o mesmo cuidado com o corpo.

Que justiça social há nisso?

Se escolho não ter filhos por não querer incorrer nos altos custos que um rebento proporciona que mal moral há nesta minha decisão? E se assim escolhi porque devo contribuir com aqueles que mesmo sem condições decidiram por ter mais filhos do que são capazes de sustentar?

Você pode não concordar com todos os meus exemplos. É um direito seu que eu respeito plenamente. Agora, o que desejo é o mesmo respeito, que desde que eu não lhe faça o mal, que eu possa viver minha vida como julgar conveniente, sem o maldito estado me roubando e me coagindo em prol de um suposto bem moral que eu não enxergo como tal.

O estado não faz o mal. Ele é o mal.