Brasil, a nova Argentina?

Brasil, a nova Argentina?

Tem causado polêmica o texto publicitário escrito pelo economista Felipe Miranda, sócio proprietário da consultoria Empiricus Research. O título é agressivo e visa causar impacto no leitor: O fim do Brasil?

Primeiro, esteja ciente que o texto apesar de apresentar dados macroeconômicos verdadeiros é comercial. Portanto, não se esqueça de que ele deseja lhe vender um produto. E, segundo, não estou entrando no mérito do produto vendido. Não conheço o Felipe, e até terça-feira última também não conhecia a consultoria Empiricus. Tomei conhecimento do autor e sua empresa, e do polêmico texto, ao receber a newsletter do site Dinheirama assinada pelo Conrado Navarro.

Mas vamos ao que realmente desejo lhe falar neste artigo.

Brasil, a nova Argentina?

Alguns acham exagero e impossível o Brasil chegar ao descrédito total como estão nossos vizinhos. Ontem oficialmente tivemos a moratória da dívida Argentina. Eles não chegaram a um acordo com os credores ao qual chamam de abutres.

Em 1940 a Argentina era a maior economia da América Latina com um PIB quatro vezes maior que o brasileiro. Era um país rico com renda per capita elevada. Entre 1900 e 1914 a Argentina cresceu, em média, 7,8% ao ano se tornando a sexta maior economia do mundo em 1929. Hoje é apenas a vigésima nona.

Eles erraram demais em pouco tempo. Vários golpes militares. Guerra pelas ilhas Malvinas. E como toda guerra trás gastos astronômicos em apenas 7 anos (1976/83) multiplicaram a dívida externa em 8 vezes. Em 1977 tinham inflação galopante que chegou a 800% ao ano.

No começo deste século a Argentina tinha 25% de seus trabalhadores desempregados. Em 2002 o PIB argentino foi negativo em 10,9%. Em 2013 o PIB argentino foi de 404 bilhões de dólares frente ao brasileiro que foi de 2,2 trilhões. Mais de 5 vezes menor, sendo que já foi 4 vezes maior.

Durante a década de 1990 a Argentina sofreu forte desindustrialização.

No começo do século passado tinham uma base agrícola e agropecuária que desmoronou com a crise de 1929 e a segunda grande guerra.

O Brasil é um país sofrido e entende de inflação como poucos. Quem tem mais de 35 anos sabe bem disso. Em 1994 com a estabilização da moeda através do Plano Real a inflação foi controlada. Um dos pilares do Real foi o forte controle fiscal. É claro, diria os economistas mais atentos, que um fator preponderante foi a desindexação da moeda acabando com a inflação inercial e sua indexação a URV. Concordo. Mas sem o ajuste fiscal tenho a certeza que não teríamos tido sucesso.

A partir de 1999 adotamos o chamado tripé macroeconômico: superávit primário **(ou seja, controle fiscal), câmbio flutuante e meta de inflação **(4,5%).

Depois de 2008 com a crise financeira mundial o Brasil tem abandonado o tripé macroeconômico e flertado com a chamada nova matriz econômica: política fiscal expansionista (que chamam de keynesiana, mas sendo justo com o Keynes, quando ele falou em gastos do governo pensava em investimentos), juro baixo (Selic), crédito subsidiado (BNDES), câmbio desvalorizado (queima de reservas) e aumento das taxas de importação como forma de proteger a indústria nacional.

Assim como a Argentina que fez tudo errado no passado e paga o preço hoje o Brasil tem feito tudo errado hoje e irá pagar o preço amanhã.

Nossa dívida pública nos últimos anos foi de 800 bilhões de reais para mais de 2,2 trilhões. Quem vai pagar a conta?

O investimento do governo não passa de 18% do PIB quando este deveria ser de ao menos 25% do PIB.

IED (investimento direto estrangeiro) baixo pela falta de credibilidade de nossa política econômica. E o empresário brasileiro com o pé no freio. Só atraímos dólares especulativos: bolsa de valores. E estes não ajudam um país a crescer sustentavelmente.

Crescimento econômico pífio e inflação elevada. Sem contar os preços represados do combustível e da energia.

Um governo clientelista.

Empresas de capital misto sendo usadas para fins políticos: Eletrobras e Petrobras.

O Brasil vive de voos de galinha. Cresceu um pouco nos últimos anos pela forte demanda de commodities da China. Somos um país primário exportador. Países assim são reféns do mundo.

O Brasil precisa desenvolver tecnologia.

O cenário não é de fim do Brasil, mas o alerta tem sim que estar ligado.

A inflação brasileira é preocupante e o endividamento público e das famílias crescente. Não se faz um país crescer baseado em consumo. Este boom passou.

Devemos voltar ao tripé macroeconômico e esquecer a nova matriz.

Ou o Brasil abre o olho e começa a mudar já ou nos tornaremos a próxima Argentina, depois Venezuela e quem sabe Cuba.

Abraço!

Referência: Jornal da Globo de 30/07/2014