É bom ser burocrático

É bom ser burocrático

Sou servidor público, ou seja, um burocrático.

Quando falo em burocracia, não falo da burocracia burra. No sentido popular a burocracia é entendida como a morosidade e a ineficiência de um sistema, o montante de papeladas, o excesso de tramitações e o apego extremista ao regulamento.

Max Weber, sociólogo alemão e maior estudioso no assunto, ao invés de definir o que seria burocracia preferiu caracterizá-la. Weber definiu burocracia como sinônimo de organização.

O modelo burocrático surge em reação ao nepotismo e a parcialidade. A burocracia busca uma linha de equilíbrio entre relações humanas e administração científica. Com o crescimento e complexidade das organizações passa a ser necessário um modelo mais racional.

Weber distingue três tipos de dominação:

a)    Tradicional: onde predominam características patriarcais, existe a crença na rotina, na tradição de pai para filho. Existe o uso de costumes e não da racionalidade. Existem privilégios e favoritismo.

b)    Carismática: predominam características místicas, sua liderança é pessoal, intransferível, não pode ser concedida como herança.

c)    Racional-legal: predominam normas baseadas na impessoalidade, na racionalidade.

A burocracia é caracterizada pelo sistema racional-legal descartando o sistema tradicional e o carismático. Podemos dizer que são basicamente quatro fatores que definem uma organização burocrática: (1) são sistemas sociais, (2) formais, (3) impessoais (4) dirigidos por administradores profissionais.

“O formalismo da burocracia expressa-se no fato de que a autoridade deriva de um sistema de normas racionais, escritas e exaustivas, que definem com precisão as relações de mando e subordinação, distribuindo as atividades a serem executadas de forma sistemática, tendo em vista os fins visados. Sua administração é formalmente planejada, organizada, e sua execução se realiza através de documentos escritos”.

Características da Burocracia Weberiana**

a)    Normas racional-legais: As normas surgem em função da razão e não da tradição. Elas existem porque levam ao fim visado. As normas conferem autoridade ao possuidor do cargo. A autoridade burocrática é baseada no direito.

b)    Normas escritas e exaustivas: A norma racional é escrita e divulgada formalmente procurando cobrir todas as áreas da empresa. O administrador não é o responsável pela decisão e sim pelo cumprimento da norma.

c)    Caráter hierárquico: Existência de um sistema hierarquizado. Mando e subordinação com supervisão do posto superior em relação ao inferior. A organização toma a forma piramidal.

d)    Divisão horizontal do trabalho: Atividades são divididas de acordo com os objetivos a alcançar. Os cargos são definidos de forma abstrata e não pessoal. Autoridade e responsabilidade pertencem ao cargo e não a pessoa que o ocupa.

Cabe salientar que todas as observações levantadas por Max Weber em relação ao modelo ideal de burocracia, não pretende dizer que todas as organizações devam ser assim. Weber escreve a tendência natural das organizações, o modelo ideal, algo utópico e complexo em sua totalidade. Weber não estava tomando partido na luta que a escola da Administração Científica e a Escola de Relações Humanas travariam a respeito: a primeira defendendo e a segunda condenando rigorosamente a administração impessoal. Ele está apenas afirmando que as burocracias, em seu estado puro, tendiam a ser impessoais.

Weber diz que a burocracia tende a seguir o modelo “sine ira ac studio”, sem ódio ou paixão. A burocracia é desumanizada, sem caráter pessoal, sem sentimentos. Em seu estado puro a burocracia não tem espaço para favoritismo ou gratidão, para simpatia ou antipatia. O administrador burocrático é imparcial e objetivo, sua missão é cumprir sua função e alcançar objetivos organizacionais com o máximo de eficiência.