O consumo, o marketing e a sustentabilidade.

O consumo, o marketing e a sustentabilidade.

Para o entendimento deste texto defino marketing como o uso de técnicas mercadológicas visando promover e assim criar desejo e demanda por um produto ou serviço.

O marketing puro não é sustentável, pois ao criar desejo e demanda ele não está preocupado com a capacidade do planeta em fornecer matéria-prima. O ser humano é um vírus ao planeta, e um vírus pouco poderoso, pois após apenas algumas centenas de anos sem o homem ele é capaz de se reestabelecer. Perto dos milhões de anos de sua existência o tempo para ele se fortalecer será insignificante em sua história. Numa analogia, é o resfriado que lhe impediu de curtir um final de semana a anos atrás. Na verdade o evento foi tão pouco expressivo em sua existência que você nem se recorda ao certo quando foi. Assim é o ser humano para o planeta, um resfriado.

Já o homem é um ser tão predatório, com uma capacidade de consumo insustentável que está acabando com sua própria existência. Aproximadamente 15% da população mundial passa fome, mas mesmo assim a natalidade só aumenta. Que racionalidade existe nisso?

Crescimento sustentável é bravata. Sustentável é o não crescimento.

Quando falamos em crescimento sustentável para salvar o planeta ele deve sorrir ironicamente. Na verdade o sustentável que pregamos é para salvar a nós mesmos. O marketing é contra a sustentabilidade, pois ele prega o consumo. O desenvolvimento econômico é contra a sustentabilidade, afinal desenvolvemos para consumir mais, para termos mais conforto, comodidade, luxo, status.

O crescimento econômico e o marketing caminham em direção oposta à sustentabilidade.

Os recursos naturais são privados? Não, pelo menos em teoria. A indústria paga impostos para explora-los. Os recursos são um patrimônio de todos os cidadãos e por isto ela paga ao agregar valor e vende-lo. Mas é justo o imposto pago? A extração gera a riqueza de poucos e proporciona vida miserável para a maioria.

Qual o impacto ambiental marítimo causado pela exploração de petróleo no pré-sal? Não temos noção, esta é a verdade. Pelo máximo que biólogos e demais ambientalistas fazem projeções não há histórico para comparação. Tudo não deixa de ser especulativo.

Os EUA pagaram as consequências catastróficas de duas bombas atômicas durante a segunda guerra? Não conseguimos mensurar a perda até hoje.

O marketing me vende o conforto: TV no quarto, escritório, sala e até mesmo na cozinha. Embalagens descartáveis produzindo bilhões de quilos de lixo diariamente. Enfeites para um ambiente mais agradável, roupas e mais roupas para variar na vestimenta e tudo mais que é produzido que não é necessário e sim um desejo criado por técnicas mercadológicas.

Falam em economia de água e energia elétrica nas residências quando mais da metade da água potável é perdida através das tubulações antes mesmo de chegar às casas e 17% da energia elétrica tem o mesmo destino. Melhora da infraestrutura e desenvolvimento de tecnologia seria sustentável, evitaria perdas e se economizaria recursos naturais. Na verdade o sustentável mesmo seria a não-produção e o não-consumo. Mas isto ninguém quer, eu não quero e você não quer. Não abrimos mão do conforto em prol do sustentável, esta é a verdade.

O desenvolvimento sustentável passa por uma mudança de paradigma. Economizar recursos é o oposto do que o mercado vende: um consumo desenfreado. E o novo paradigma seria o de uma vida mais frugal, menos luxuosa, mas focada no SER e menos no TER. Os valores precisam ser mudados.

A educação financeira ao defender o uso consciente do dinheiro ajuda, pouco, mais ajuda, para uma maior responsabilidade ambiental. Mas não sendo hipócrita, o foco não é este, e sim a busca da independência financeira, a colaboração ambiental é apenas uma consequência.

Conclusão

O marketing gera demanda por desejo e não por necessidade, sendo assim não é sustentável. A indústria e o comércio crescem ao fornecerem mais e mais produtos e assim geram mais e mais lixo, também não é sustentável.

A preocupação com o ambiente existe apenas em segundo plano, desde que não impeça o forte crescimento que gera lucro. Uma verdadeira preocupação ambiental estaria focada em um paradigma de uma vida menos luxuosa, mais frugal, controlando a natalidade, reaproveitando produtos e criando outros duráveis e não descartáveis. Mas aí o consumo não cresce se estabiliza e até diminui.

Um PIB negativo é sustentável.

Paro porque aqui, deixando apenas uma pergunta: A industrial não cria produtos sustentáveis por falta de tecnologia ou por não ser lucrativo para elas?