O mundo caminhava lentamente no passado.

O mundo caminhava lentamente no passado.

Eu me lembro de um tempo em que o mundo caminha devagar. Este tempo parece tão distante, mas na verdade faz apenas alguns anos que ele aconteceu.

Eu me mudei da capital paulista há 14 anos, tinha 17 anos. Aparelhos celulares não existiam e usar o telefone fixo era uma pequena fortuna. O jeito era a boa e velha carta. Lembro com saudade de dezenas de cartas que troquei com duas amigas durante quase três anos. Redigia a carta e ia até o correio fazer a postagem. Não havia pressa, tudo era feito na maior calma do mundo.

Se eu voltar ainda mais no tempo, lembro-me de minha adolescência ainda morando na cidade de São Paulo e minhas idas ao supermercado. Eram longas caminhadas até o Cândia (nome do supermercado) empurrando um carrinho de feira. Ainda vivíamos uma inflação galopante, então a ordem era: receber e gastar. Recordo que assim que meu pai recebia seu famigerado salário como professor de educação física do Estado, eu acompanhava minha mãe, dona de casa, até o Cândia para as compras.

Ainda me vem à mente as idas ao banco para pagar contas. Este ficava lá no Clipper, bairro um pouco distante de minha casa. Minha mãe me dava o dinheiro para dois ônibus, era longe, uns 3 km de casa. Confesso que adorava fazer serviços de Office boy para minha mãe, não porque amava as filas, mas sim porque podia ir a pé, embolsar o dinheiro do ônibus e tomar sorvete com ele.

Lembro-me do tempo que eu tinha que por um bombril na antena da TV e mexer para cá e para lá em busca da melhor imagem. Também neste tempo tinha que se levantar para mudar o canal e voltar a mexer na antena em busca novamente da melhor imagem.

Minha professora de Geografia do ginásio (hoje ensino fundamental) exigia o mapa do Brasil em papel vegetal. Dava um trabalho. Sair de casa, ir até a biblioteca, pegar o atlas, fazer o mapa, pintar o mapa e voltar para casa. Era um dia todo de trabalho. Os demais trabalhos eram feitos da mesma maneira: biblioteca e livro.

Ainda tinha o velho e bom pastel de feira. Pastel e caldo de cana.

Hoje o mundo caminha rapidamente. Contas são pagas via home banking e a inflação não é nem próxima do que acontecia antes do plano real. Trabalho escolar? Basta digitar o assunto no Google. Livro, leitura e resumo? Esquece. CTRL C / CTRL V é mais fácil e rápido. Em 30 minutos o trabalho está pronto.

Antes, ter informação era ter poder. Hoje a informação é democrática, está disponível e acessível a todos. Só que hoje se exige conhecimento, algo que vai muito além da simples informação.

Os adolescentes são impacientes, querem tudo para ontem. Enviam um e-mail e se alguns minutos depois a resposta não vem já estão lingando no celular da pessoa para saber se ela recebeu o e-mail. Telefones, eles tem várias linhas, à vezes uma de cada operadora e levam o aparelho para todos os lugares, inclusive ao banheiro.

Antigamente, o jovem ia estudar à noite para poder trabalhar de dia. Isto com 14, 15 anos de idade. Hoje eles têm mais de 20 anos e vão acompanhados dos pais à Universidade. Quem argumenta é o pai, muitos nem sabem se expressar.

É, realmente muita coisa mudou nos último 20 anos, mas uma coisa não mudou: o Chaves continua sendo o melhor programa da televisão brasileira.