A mania de comprar a prazo do brasileiro.

A mania de comprar a prazo do brasileiro.

A compra a prazo se tornou a modalidade padrão no comércio brasileiro. Não se anuncia mais o preço do produto e sim apenas o valor da parcela e a quantidade delas a serem pagas. O pior é que o brasileiro está pouco preocupado com os juros e demais taxas ocultas embutidas numa compra financiada, sua única preocupação é se a parcela cabe ou não dentro do seu orçamento. Cabendo ele compra o produto.

Os anúncios de três, seis ou mesmo dez vezes sem juros são corriqueiramente encontrados nas vitrines e demais anúncios das lojas, e o consumidor faz um esforço tremendo para acreditar que aquilo é verdade e não um puro jogo mercadológico. Ele quer aliviar a consciência e fica criando estratégias mentais para se sentir a vontade e não culpado pela compra. É comum se ouvir nos dias de hoje que o assalariado só consegue comprar a prazo, que se não for desta maneira ele nunca terá nada.

O acesso ao crédito no Brasil está cada vez mais fácil e rápido. E os créditos pré-aprovados ainda são os mais usados pela população. Estes créditos são o limite do cartão de crédito e a extensão lançada no extrato da conta corrente como cheque especial. Esses créditos que não precisamos solicitar e que já estão disponíveis automaticamente para nós são os mais caros, são taxas absurdamente altas que farão qualquer pessoa que entrar no rotativo de uma destas modalidades multiplicar sua dívida de forma exponencial. A bola de neve mais que triplica a cada 12 meses. É assustador realmente, e infelizmente por estarem disponíveis as pessoas fazem uso de forma indiscriminada.

Num cenário ideal o certo é nunca se gastar mais do que se ganha para não precisar fazer dívidas. Mas caso a dívida seja necessária, nunca, eu disse nunca, use o limite do seu cheque especial ou deixe de pagar a fatura integral do cartão. Faltou dinheiro e você não conseguirá fechar o mês? Então vá até o banco, sente-se à mesa da gerência, e faça um empréstimo pessoal. Deixe a vergonha de lado, admita que precisa de dinheiro e negocie taxas aceitáveis.

A qualidade do que é comprado é outro problema, só compramos passivos, compramos produtos que nada acrescentam ao nosso crescimento. O brasileiro compra carro, viagem, roupa, sapato; tudo parcelado. Investir em educação ninguém investe. Se for para parcelar que pelo menos seja a compra de livros ou de cursos. Ao menos parcele produtos que potencializam suas chances de maximizar a renda no futuro.

Semana passada assisti uma palestra sobre planejamento financeiro e o palestrante afirmou que segundo pesquisas recentes 80% das famílias com renda de até 10 salários mínimos terminam o mesmo em déficit. É muita gente.

Os jovens começam a trabalhar e compram logo seu primeiro passivo: o carro. Um carro só dá gastos e é a primeira coisa que os jovens têm comprado. Os anúncios televisivos são apelativos: preço de nota fiscal de fábrica e taxa zero são frases presentes nas propagandas. São verdadeiras propagandas enganosas que os órgãos fiscalizadores ignoram. Estas empresas deveriam ser punidas por ludibriar o incauto consumidor.

Agora nos dias de hoje o consumidor é enrolado por que quer. A Internet proporciona a busca de informação ao clique do mouse. A verdade está presente neste e em dezenas de outros sites e blogs. O cliente não pode alegar desconhecimento, se ele é engodado é por que quer. Muitos gostam de se passarem por vítimas e jogar a culpa nas propagandas agressivas.

O meu amigo Everton do Finanças Forever é bem radical e totalmente contra o assistir TV. Sou menos taxativo e acredito que devemos separar o joio do trigo, mas levando-se em conta os dados estatísticos do endividamento da população me parece que a grande maioria é incapaz de fazer a seleção.

Caros leitores, numa compra a prazo sempre pagamos juros, não importa o que é anunciado pelas lojas, sempre existe juro. Viva uma vida à vista, uma vida frugal, sem aumentar seus objetivos (gastos) de maneira proporcional ao aumento da renda. Não se iluda dizendo que se não for parcelado não é possível. É possível sim, basta adiar o consumo, basta economizar e investir o valor da parcela para comprar no futuro à vista pagando menos.

Foi promovido, arrumou outro emprego ou mudou de emprego e passou a ganhar mais? Nada de aumentar seu padrão de vida, aumente o aporte nos investimentos, passe a economizar e a investir mais. Não deixe o pseudo-marketing lhe convencer a comprar algo desnecessário, viva a sua vida e esteja mais preocupado em adquirir conhecimento do que bens inúteis.

Boa semana.