A carência de educação formal e financeira

A carência de educação formal e financeira

Quanto mais eu converso com as pessoas sobre dinheiro, mais convencido eu fico da carência de educação financeira que existe no Brasil. A grande maioria ignora, por exemplo, que uma diferença de 2% numa taxa mensal de juro é uma diferença exorbitante no longo prazo.

2% é muita coisa

Você pagar 10% de juro anual ao financiar um imóvel de R$ 200 mil ou pagar 12% faz, e muita, diferença ao final do período.

Financiar o valor a uma taxa de 10%, paga-se parcelas mensais de R$ 1.755,14, enquanto com a taxa de 12%, a parcela vai para R$ 2.057,23. Uma diferença de 17,21%.

Agora, imagine que você pesquisou e conseguiu pagar, ao invés de parcelas de R$ 2.057,23 parcelas de R$ 1.755,14 e investiu durante os 30 anos (recebendo a taxa básica de hoje (7,25%)) a diferença. Ao final do longo período, sem considerar custos, impostos e inflação, você acumulou mais de R$ 387 mil. É uma quantia muito significativa e que de maneira nenhuma pode ser ignorada.

Não ignore pequenos valores

Não subestime pequenos valores porcentuais, ele pode parecer pouco significativo quando se vê apenas o número de forma isolada, mas a diferença é gritante no longo prazo.

As dívidas

Nos exemplos acima a situação fica evidente, mas os endividados acabam pagando taxas mais altas por desconhecimento ou comodismo. O juro médio mensal do cartão de crédito é hoje 10%. O de um empréstimo pessoal 3,5%. Uma diferença gigante; afinal, são 6,5 pontos percentuais. Mas, infelizmente, os endividados ao invés de buscarem um empréstimo pessoal para quitar dívidas preferem fazer uso do crédito.

Não há quem consiga se livrar das dívidas pagando juros tão altos.

O crédito no Brasil

Quando comparamos o nível de endividamento do brasileiro com o de outros países, notamos que ele é relativamente baixo. O crédito no Brasil hoje representa 51% do PIB. Em países desenvolvidos a média é de 75%, com alguns passando dos 100%. O problema é que nosso juro é altíssimo, enquanto o praticado nestes países é baixo.

O juro praticado é estabelecido pela preferência temporal de consumo. É fato que preferimos consumir hoje a adiar o consumo para uma data futura. Se não tenho condições de comprar hoje, mas desejo consumir agora; estarei disposto a incorrer em dívidas para isto. O valor do juro poderia ser regulado de forma natural pelo mercado, onde tomador e emprestador entrariam num equilíbrio. Mas, os bancos como os únicos agentes autorizados a intermediar o negócio, ficam com grande parte desta diferença. Eles captam dinheiro pagando pouco ao emprestador, e emprestam cobrando muito.

Escrevi um Guest Post ao Quero Ficar Rico do Rafael Seabra com o título “E se não existissem os bancos?” Alguns não compreenderam meu raciocínio no texto, outros concordaram. Leia o texto clicando aqui.

Tenho uma visão econômica bem monetarista, defendo um Estado mínimo, que apenas regule a concorrência para ela acontecer de maneira justa. Uma economia de livre mercado. Mas tenho visto um governo bem regulador, com leis protecionistas e com uma alegação para isto, que assim protege nossa economia. Mas o que acontece de fato é um amedrontamento do empresário, pois as regras mudam tanto que investir capital em um novo empreendimento é um grande risco. As leis regulatórias podem mudar amanhã. E aí as projeções de lucro e crescimento podem afundar.

Uma economia salutar é construída com regras claras e definitivas. Leis sólidas, que dê segurança ao investidor.

O governo, só neste ano, mexeu com os bancos, com as elétricas, desonerou impostos de alguns setores… só que ele não segue uma linha formal de raciocínio e conduta, tudo é feito de maneira aleatória, as regras do jogo não são claras e isto afugenta novos entrantes. Uma maior concorrência leva a uma melhora dos preços e da qualidade dos produtos. Toda organização numa economia livre tem o preço mínimo de seus produtos e serviços definido por seu custo marginal, e o máximo pela oferta e procura.

Nossa carga tributária precisa ser simplificada, a burocracia precisa ser diminuída. Abrir uma empresa precisa ser mais simples e fácil. Com isto o empreendedorismo é incentivado e a concorrência aumenta. Toda a sociedade se beneficia.

Como diminuir o juro?

Como educador defendo a mudança através da conscientização do indivíduo. O governo precisa dar o exemplo, deixando de gastar em excesso e somente o que tem (impostos). O cidadão precisa ser educado, tanto formalmente como financeiramente, somente assim poderemos tomar melhores decisões, adiar nossas preferências temporais de consumo e assim forçar os estabelecimentos a baixar o juro para vender.

Baixar juro por decreto não funciona.

Concluindo

A educação transforma…

Somente com conhecimento seremos menos ludibriados, gastaremos com consciência e nos recusaremos a pagar juros abusivos.

Nossa forma de fazer política precisa mudar. Politica não é profissão. O cidadão deveria dar sua contribuição ao Estado e voltar à sua atividade profissional. Os salários não deveriam ser atrativos. Eu proponho uma lei onde o maior salário de um servidor público seja o de um professor de nível básico.

Devemos ter políticas macro e de longa duração. Criar leis pensando na próxima eleição, em se reeleger ou eleger um sucessor é furada. O Brasil só perde desta maneira. Deveríamos ter plebiscitos onde definiríamos o que realmente queremos para o Brasil. Assim poderíamos optar por investimento em educação, infraestrutura e saneamento básico ao invés de trazer eventos esportivos que pouco beneficio trás ao país.

Muitas coisas precisam ser revistas e repensadas. Não tenho soluções, mas acredito que somente uma população educada é capaz de promover mudanças e um crescimento econômico sustentável.

Boa semana!